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sexta-feira, julho 27, 2012

A Rádio em Portugal e o Declínio do Regime de Salazar e Caetano (1958 -1974)



Estudar as relações entre a rádio portuguesa e o regime do Estado Novo entre os anos 1958 e 1974 é o principal objectivo desta investigação. 
As fontes estão pouco organizadas, a informação está dispersa e muitas vezes inacessível. Dado o carácter quase pioneiro desta primeira recolha sistemática de dados, não me proponho mais do que apresentar uma primeira abordagem aproximativa à uma realidade tão extensa, rica e ao mesmo tempo tão desconhecida. Nesse sentido, desejo apenas dar uma contribuição para o estudo da história de uma década da rádio em Portugal, sem pretender mais do que possibilitar um primeiro olhar, necessariamente incompleto e insuficiente, ainda que, o mais fiel possível aos dados e testemunhos reunidos.


As relações entre a rádio e o poder político no final do antigo regime estão tão pouco estudadas, e por isso tão incompreendidas, quando afinal se revelam extraordinariamente importantes para a compreensão do poder, discretamente manipulador da consciência das massas, realizado através de um meio sonoro, tão intensamente utilizado como forma de defesa de uma opinião pública favorável aos valores de «Deus,  Pátria e Família».
O regime serviu-se da rádio assim como a rádio se serviu do regime, como forma garantida de crescer e se expandir. (*)
Maioritariamente oficial e/ou oficiosa, a rádio portuguesa, constituída pela ondas hertzianas de aquém e de além mar, nascida e criada no contexto do Salazarismo, estava bem inserida nos condicionalismos socio-político-económico coevo.
Aprendeu a gerir as condições adversas, a ultrapassar a dificuldades e a superar os obstáculos. E será assim que, dando continuidade a uma rádio tradicional, nascerá neste período uma nova rádio. Esta opor-se-á à anterior, da qual contestará o discurso, os temas, as posturas. Apresentará uma inovação, essencialmente estética, durante o salazarismo, forçando cada vez mais o conteúdo, no marcelismo. As novidades que propõe vão beliscando cada vez mais intensamente o regime, que se incomoda.
Habituado a uma rádio-espectáculo, à base de emissões directas, anteriormente, e depois de passagem de discos, antes entremeados com uma conversa que nada diz e depois sem quase nada dizer, fechada na cabina, o regime assusta-se com tamanha audácia. 
Aos poucos, as rádios privadas, Renascença e Rádio Clube, concorrendo entre si e com a emissora oficial, vão arriscando sucessivos elementos de contraste com a “maçadora nacional”. Desde 1958 que vão paulatinamente preparando a revolução. Conteúdos excepcionais, sons raramente ouvidos, locais e pessoas habitualmente desconsiderados e tudo sedimentado em novas experiências, na Rádio Universidade e na Rádio em África.
Além de uma aprendizagem sobre a sua especificidade, centrada sobretudo na rapidez e no imediato, explorada sobretudo pela informação, a rádio vai assumindo protagonismo e aos poucos vai-se desinibindo e ganhando auto-confiança. 
Privilegiada pela relação dialogante e próxima que mantinha com a censura, exercida pelos próprios responsáveis das estações, e pela possibilidade de utilizar o directo como fuga ao controlo manobrado, a rádio atinge um estatuto particular. Dá algumas ferradelas ao regime, sofre também algumas perseguições, mas convive bem com o poder. (**)
Limitadamente, a rádio resiste.
Emitida e consumida por um grupo restrito de pessoas, (***) preocupadas sobretudo com a exploração da realidade, com verdade, a rádio nova vai ser a voz diferente, distante da militância política estrita, da direita ou da esquerda, que assegurará um efectivo esclarecimento da opinião pública.
Nascida com o Estado Novo, nela o regime morrerá.




Dina Isabel Mota Cristo - Universidade Nova de Lisboa - Faculdade  de Ciências Sociais e Humanas - Lisboa, 15 de Abril de 1999
(Tese de mestrado orientada pelo Prof. Dr. Francisco Rui Cádima e apoiada pela Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT), do Ministério da Ciência e Tecnologia, apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa, para obtenção do grau de mestre em Ciências da Comunicação.)


Esta é a opinião da autora, na sua tese de mestrado, desconhecendo se este foi o texto final da mesma.
Não é a minha, tanto quanto as minhas memórias o permitem. Vejamos então:
(*)
O regime serviu-se da rádio assim como a rádio se serviu do regime, como forma garantida de crescer e se expandir
Os regimes políticos tentam sempre aproveitar-se dos meios de comunicação e acredito que muitas vezes o inverso também seja verdade, ainda que parcialmente.
Mas, aquilo que me parece é que a rádio cresceu e se expandiu porque foi uma voz critica e teve a capacidade de inovar e fazer melhor.
(**) Privilegiada pela relação dialogante e próxima que mantinha com a censura, exercida pelos próprios responsáveis das estações, e pela possibilidade de utilizar o directo como fuga ao controlo manobrado, a rádio atinge um estatuto particular. Dá algumas ferradelas ao regime, sofre também algumas perseguições, mas convive bem com o poder. 
Privilegiada pela censura? Directos como fuga? Boa convivência com o poder? 
Nunca deve ter falado com nenhum autor, locutor, realizador ou produtor dos programas de referência da época referida.
(***) Emitida e consumida por um grupo restrito de pessoas  
Então mas os programas de rádio não são sempre emitidos por um grupo restrito de pessoas? Quanto aos "consumidores"...Se os ouvintes eram um grupo restrito como é que a rádio aumentou audiências e ganhou tanta importância que acabou por ser escolhida como canal do golpe militar?


A juventude explica muita coisa mas não justifica tudo.

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