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quarta-feira, dezembro 26, 2012

Balanço

Estamos a chegar ao final desde malfadado 2012!
E, como é habitual, parece ser a altura ideal para balanços e retrospectivas.

O nosso grupo em particular, não foi dos mais bem sucedidos.

  • O Paulo optou por querer passar a organização do nosso almoço anual. Está no seu direito e parece-me perfeitamente correcto. No entanto, não tendo sido designado sucessor, também não houve candidato ao lugar. Ninguém se voluntariou ou foi proposto, pelo que não houve "almocinho". Estamos "sem rei, nem roque"! Volta Paulo que sem ti não há almoço e provavelmente vamos demorar mais trinta ou quarenta anos para nos voltarmos a encontrar!  Já não vai é ser na Graça! Nem neste mundo!
  • Alguns de nós já estávamos reformados (pelo menos o autor). Durante este ano, pelo menos mais um entrou para o clube (o amigo Funenga). Parabéns a quem conseguiu!
  • Alguns já eram avós. Durante este ano, pelo menos mais um entrou para o clube (o amigo Paulo). Parabéns a quem conseguiu!
Isto dos clubes é engraçado! 
Uns são quase a ambição de uma vida! 
Outros são uma recompensa "babada"! 
Outros são, ou pretendem ser, um grupo engraçado, um pouco nostálgico é certo, de gente tão diversa e com percursos tão distintos. Apenas com um passado comum: foram membros do Núcleo de Rádio do Gil Vicente! Fizeram rádio, sonharam ser locutores importantes e fazer programas de rádio de êxito. 
E depois "cresceram" e fizeram-se à vida! E tiraram cursos! E arranjaram empregos! E casaram! E esqueceram-se daqueles sonhos! E substituiram-nos por outros! Curiosamente, NINGUÉM seguiu o percurso da rádio!
Voltaram a encontrar-se quase quarenta anos depois (isto para o grupo dos membros mais antigos em que me incluo) para se reconhecerem e relembrarem o "passado glorioso"! E conhecer os membros das gerações seguintes!

As previsões são negras para 2013. 
Serão?


sexta-feira, agosto 10, 2012

Dois nomes a confirmar e a descobrir para futuros almoços Formosinho e Rosendo, António Fortes ando á "caça"

Para ajudar à "caça" junto foto da época



1- Rosendo? - era deficiente motor. usava duas canadianas, por ter sofrido de paralisia infantil.Vivia com os avós.

2 - Formosinho - Sanches de apelido. Era filho do arqtº Formosinho Sanches e era amigo do Horácio. Julgo que também se licenciou em arquitectura.

3 - Forte - o Barroso é que sabe alguns pequenos pormenores. Apenas sei que gostava de aviões e julgo que chegou a pilotar.

terça-feira, agosto 07, 2012

DA RÁDIO TRADICIONAL À RÁDIO NOVA


A actividade informativa





A informação, que já se havia revelado ao nível da programação um dos principais meios de refrescamento da rádio, inicialmente ao nível formal e posteriormente também ao nível dos conteúdos, torna-se no principal motor de desenvolvimento do meio radiofónico.
Em 1967, a crítica aplaude «(…) a evolução marcante que se pressente em todos (ou quase) os programas da noite da nossa rádio. Toda a gente parece andar de máquina na mão em busca da notícia. Será que, de repente, a rádio decidiu vir, finalmente, para a rua? Viva a iniciativa e toca a entrevistar.
Neste modelo inclui-se o “PBX” cujos elementos «Dão reportagem. Dão acontecimento. Dão vida. Têm irreverência e atrevimento».
(...)
Ao longo dos anos, a informação “noticiosa” descobrirá a sua compatibilidade com o meio radiofónico e adaptar-se-á a ele, crescendo em quantidade e em qualidade. A rádio revelará as potencialidades da informação e esta as idiossincrasias da rádio, tentando respeitá-las. E se em 1960, o sector da informação parecia à crítica, ainda dedicado ao ostracismo, ganhando apenas vida, normalmente, quando os jornais saíam para a rua, a excepção do “Diário do Ar”, onde alguns dos grandes acontecimentos foram divulgados sem se esperar pela saída dos jornais, como ocorreu com a cobertura da inauguração do metropolitano, em Lisboa, prometia alterações.
Registava-se já o interesse pela exploração da informação na rádio, através de realizações como o “Rádio Jornal”, programa vespertino de duas horas, emitido pelo emissor de Miramar do RCP, entre as 15h15m e as 17h20m, de segunda a sexta-feira, um autêntico jornal radiofónico onde a notícia, a reportagem e a música se conjugam, realizado pelo Radio Press Office (RPO). Esta produtora independente, publicitária, estimulará a produção de carácter informativo. Com a colaboração de Paulo Cardoso, chefe dos serviços de produção, em 1963, a RPO passará pela adopção de uma nova estratégia: «A «Nova Linha» é um estilo novo. Mais sintetizado, mais dinâmico – como a vida actual – mais incisivo». Nela trabalhará Maria Helena Mensurado, a primeira jornalista radiofónica, ao redigir e dar voz aos apontamentos “Primeiras Páginas” do programa “Gazeta da Manhã” e alguns “Falando francamente” de “Os donos da noite”.
A repartição da informação, incluída desde 1957, na direcção dos serviços de programas e, desde 1969, na divisão de programação, vai-se, contudo autonomizando aos poucos dos programas e revelando a importância progressiva dos serviços de noticiários. Inserido neste movimento, Luís Filipe Costa, que havia sido chefe de redacção da Agência de Publicidade Artística (APA), é incumbido por Júlio Botelho Moniz e Álvaro Jorge, director de programas do RCP, de criar um serviço de noticiários apelativo que agradasse aos ouvintes. O objectivo era fundar um serviço concorrente e alternativo à Emissora Nacional, por um lado, e lucrativo, expandindo a publicidade até aos noticiários, por outro.
Iniciado já nas novas instalações da Sampaio e Pina, em 1960, a nova “fábrica de novidades” revolucionará a linguagem radiofónica, tornando obsoletos os noticiários baseados em textos escritos, sem prévio tratamento adequado à linguagem específica da rádio, bem como a simples leitura de notícias ao microfone; para além de encetar um tratamento das informações disponíveis adequado ao “media” radiofónico, era o próprio profissional que as levava ao microfone.
(...)
Em 1962, a “Rádio & Televisão” reportava: «Filipe Costa (e os colegas da equipa dos noticiários seguem o exemplo) transforma, diariamente, as informações das agências que os “Telex” batem a todo o instante, em apontamentos incisivos, vivos, espantosos de precisão e de análise instantânea dos acontecimentos (…). O noticiário das 0.45, valorizado pela própria voz do seu autor, foi, afinal, buscar à linguagem telegráfica o esquema de concepção ideal para uma informação radiofónica, necessariamente rápida, nervosa, concreta». Recolhendo informação, através de telex e/ou de telefone, Luís Filipe Costa introduz a síntese, informação já devidamente seleccionada e tratada, dando corpo a uma nova entidade eminentemente radiofónica, independente quer dos jornais quer das informações escritas, numa «(…) “nova linguagem” informativa, incisiva, directa, última hora», como explicava João Paulo Guerra, um dos elementos da equipa (da qual também faziam parte Adelino Gomes, Cândido Mota, Duarte Ferreira, Fernando Quinas, Firmino Antunes, Joaquim Furtado, Jorge Dias, Manuel Bravo, Moura Guedes, Paulo Fernando e Rui Pedro).
(...)
Conforme a equipa aperfeiçoava a sua técnica de transmitir mais do que um conteúdo numa mesma mensagem, aquele que se noticiava e o que se queria transmitir, as primeiras notícias do dia iam-se tornando numa audição de culto para os ouvintes que, mais atentos, rasgavam nas frechas da informação, através de metáforas, polissemias e justaposições, a contestação ao regime: «Utilizava muitos símbolos, títulos de jornais para começar as notícias. Quando a LUAR assaltou o banco na Figueira da Foz, a notícia foi inicialmente cortada, eu não a podia dar, mas no boletim meteorológico [disse] “então amanhã saiam com gabardinas”. Pausa expressiva. “Mas felizmente há luar!”. E acabou assim o noticiário».
A resposta do “homem-notícia”, como ficara conhecido o chefe dos serviços de noticiários do RCP, constituiria uma profunda transformação da concepção informativa radiofónica, obtendo em 1966, pelos mesmos, o Prémio Ondas, um prestigiado galardão espanhol que se destinava a distinguir os mais destacados profissionais e programas de rádio, que já fora anteriormente atribuído a Maria Leonor, Jaime da Silva Pinto e Mary.
(...)
Em 1964, o “Programa da Noite”, da EN adopta o slogan “As notícias chegam e vão direitas ao seu receptor”: «Deixaram-se para trás as fórmulas tradicionais, rígidas, e talvez um pouco solenes. «Programa da noite», em íntima colaboração com os serviços respectivos da EN, apresenta agora a notícia em cima da hora. Nada de protocolos, a antecipação conta perante a oportunidade que se pode perder». A rádio veste-se de diário sonoro.
(...)
Fernando Peres anota: «Como o diário, a Rádio divulga, informa, aconselha, orienta, critica. A Rádio é a imprensa sem tinta, sem rotativa, que substitui pela voz e pelo som, pela técnica radiofónica de transmissão». O mesmo crítico aponta, ainda, em 1963: «Começa a haver jornalismo na Rádio. Um jornalismo actuante.
Os Repórteres da Rádio estão atentos. Aparecem «em cima do acontecimento». As brigadas de Rádio Clube Português e da RPO têm marcado posição de relevo». O projecto do programa “Contacto”, que veio, efemeramente a substituir o transitório “Europa”, protagonista de uma postura mais descomprimida ao microfone, ia no sentido de ser o primeiro jornal que saía para a rua, com a diferença de não ser escrito, mas falado e com especial ênfase na reportagem.
Contrastando com os serviços próprios do Rádio Clube Português, os noticiários da Rádio Renascença eram baseados na leitura de jornais: «A Renascença nessa altura estava a colar notícias do “Novidades” e do “Diário de Notícias” numa folha, às 12h 45m da tarde, e acabou. Não havia mais nada!».
Será nos anos 70 que a Rádio Renascença tentará lançar um novo serviço informativo, concorrencial ao RCP. Iniciado no dia 16 de Outubro de 1972, foi pela primeira vez transmitido no dia 23 seguinte, prolongando o seu período experimental até ao dia 16 de Dezembro. A Renascença passou, então, a dispor de seis serviços (manhã, almoço, jantar e noite, resumindo as últimas horas, e 11h e 17h, de actualidade). Porém, quer o impulso quer a qualidade será breve; se em Fevereiro de 1973, a equipa, com oito pessoas, menos uma que inicialmente, produzia mais de 200h de informação semanal, quatro meses mais tarde, reduzidos a três pessoas, os serviços produziam 120 horas, sem reportagens e com raros comentários, por sua vez menos ágeis e intervenientes. Desaparecem os apontamentos regulares e diários e de aliciante restava apenas o noticiário das 19h; a falta de recursos humanos especializados era o motivo apontado: «Não existem, neste momento, no meio radiofónico, profissionais preparados para exercer estas funções. Somos obrigados a recrutá-los nos meios jornalísticos, ou entre pessoas sem experiência prévia», explicava João Alferes Gonçalves que assegurava a chefia dos noticiários, após a saída de Carlos Cruz, em Fevereiro.
Por seu lado, a EN, que se tentará afastar da imagem de “diário sonoro do Governo”, reflectirá o peso e a importância da actividade informativa quando introduz os mapa-tipo de 1960 e 1967, este último experimental, altura em que ressurge o “Jornal de Actualidades” às 22h 30, tornando-se definitivo em 1968, quando são ajustados os horários dos então 20 serviços de notícias para intervalos de uma hora, uma consequência da preocupação pelo aumento constante da quantidade de serviços informativos. No início da década de 60, ainda se permitirá reforçar a sua componente de longa duração, reforçada pela variedade: «Eles tinham noticiários impressionantes com a riqueza de registos magnéticos. Gravavam tudo o que era do regime. Os noticiários eram qualquer coisa a sério. O conteúdo é que era aquele que era, mas tecnicamente irrepreensível. Cobriam o regime todo e arredores; as “cidades”, “região”, tudo e mais alguma coisa; bem feito».
No final da década, a Emissora Nacional seguirá antes uma política de maior brevidade ao propor serviços informativos preferencialmente curtos e dinâmicos e quando no final de 1968, Jorge Guerra faz o balanço do ano informativo conclui que há sintomas animadores «de uma maior síntese e tratamento das notícias».
(...)
o início da década de 70, a informação havia adquirido um novo estatuto e uma nova importância: «A Rádio, longe, portanto, de ter esgotado as suas possibilidades, adquiriu pujança e vitalidade, fez-se instrumento activo e indispensável da informação. Adoptou, bem entendido, novas fórmulas. Quer dizer: evolucionou acompanhando a marcha do tempo. Mas nesta transformação não perdeu características nem diminuiu a importância do seu valor social. Teve apenas de se adaptar à sua condição de informadora, deixando de se confinar aos estúdios para ir às casas em que se vive e aos lugares em que se trabalha – residências, escritórios, fábricas, oficinas, etc. – e descer à rua e em todos os lugares, estuante de energia vital, acompanhar a vida, transmitindo as suas manifestações (…). A Rádio deixou, portanto, de ser essencialmente recreativa. A sua missão tem outro sentido, que existiu sempre mas que nunca teve tanta proeminência como agora».
A rádio, sendo o mais novo meio de comunicação até então conhecido, parente mais próximo dos jornais, procurará no início da sua vida preencher o silêncio, e fá-lo-á através de todas as formas de expressão já existentes: «(…) a rádio viveu então da leitura de jornais, poemas e trechos de obras literárias, da execução ao vivo de peças musicais por músicos contratados, da transmissão de espectáculos como concertos, óperas e peças teatrais, e ainda da abertura de seus microfones para conferências de intelectuais e eruditos».
(...)
Criámos uma nova linguagem, que nós chamávamos em mangas de
camisa, chegámos a ter uma coisa escrita na parede que dizia “se a notícia que escreveste pode ser publicada amanhã de manhã, tal e qual, no “Diário de Notícias”, então não é boa para a rádio”. E começámos a fazer experiências (…)», recordou Luís Filipe Costa. O profissional que trabalha nos noticiários, primeiramente redactor ou locutor de notícias, consoante escrevia ou lia o texto, torna-se, depois, noticiarista, concedendo voz aos seus próprios trabalhos. Aos poucos, o jornalista de rádio vai surgindo como uma nova categoria entre os “homens da rádio”, trazendo para a meio radiofónico o profissionalismo e a ética. Este novo profissional assume-se como responsável por aquilo que lê ao microfone e não como mero veículo de mensagens escritas por terceiros; distingue a publicidade, que se recusa a dar voz (embora não de princípio), da sua actividade de recolha e transmissão do que testemunha. (...)
Perante uma nova concorrente (a televisão portuguesa nasceu no dia 7 de Março de 1957), que aos poucos ia conquistando auditório durante o seu horário nobre (a noite), o mundo radiofónico ao mesmo tempo que se apercebeu das suas extraordinárias características, como a flexibilidade que lhe permitia uma rapidez impossível de obter nos outros meios de comunicação de massa, começou a explorar esta sua capacidade para ser cada vez mais imediato e instantâneo. Investindo sobretudo no sector informativo e desenvolvendo as suas especificidades linguísticas, a rádio vai respondendo à televisão, ao mesmo tempo que, nas frechas do sistema informativo, tentava transmitir, numa informação por vezes conotativa, mais notícias do que as permitidas pelo regime.


Dina Isabel Mota Cristo - Universidade Nova de Lisboa - Faculdade  de Ciências Sociais e Humanas - Lisboa, 15 de Abril de 1999
(Tese de mestrado orientada pelo Prof. Dr. Francisco Rui Cádima e apoiada pela Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT), do Ministério da Ciência e Tecnologia, apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa, para obtenção do grau de mestre em Ciências da Comunicação.)

quinta-feira, agosto 02, 2012

DA RÁDIO TRADICIONAL À RÁDIO NOVA


Programação (II)


Nesta primeira metade da década introduzem-se factores dinâmicos de modernização na rádio, como a saída da cabina e a emissão nocturna, e condições humanas de desenvolvimento, como a existência de uma nova geração, formada na “Rádio Ultramarina”, percursora da rádio viva e atenta, desenvolvida designadamente por Sebastião Coelho e/ou José Maria de Almeida, e na Rádio Universidade (RU): «Para isso, reuniamo-nos pela tarde fora experimentando novos sons, nova linguagem radiofónica, novas formas de escrever para a rádio e nova locução», afirmava Adelino Gomes.
Adulta em termos técnicos, é a técnica que lhe possibilitará a renovação do discurso radiofónico, através de um novo canal autónomo do RCP que, utilizando a mais moderna tecnologia de radiodifusão, a Frequência Modulada (FM), e com uma equipa formada por uma nova vaga de jovens, irá permitir a experimentação de novas linguagens. A esta preparação técnica não é alheio o papel da Rádio Universidade na possibilidade que deu a jovens estudantes, maioritariamente universitários, de ensaiarem, desde a sua fundação, em 1950, novas linguagens técnicas e estéticas radiofónicas, dado o seu carácter totalmente amador. A RU estava na dependência da Mocidade Portuguesa, do Ministério da Educação Nacional e do Centro Universitário de Lisboa, e tinha o apoio (logístico) da EN, através da qual difundia os seus programas, primeiro através da Lisboa 2 e depois, com o mapa-tipo de 1967, da Lisboa 1.
Contribuiu assim para o surgimento de programas como o “Em Órbita”, marcado pela inovações no campo da estética radiofónica, fundado em 1965, por João Alexandre, Jorge Gil e Pedro Albergaria. Aos dois dedos de conversa oca e vazia entre equipas de dois locutores como lançamento de discos bem conhecidos do público, estes jovens estudantes, amadores de rádio, propõem uma mensagem concisa e com conteúdo: «Era uma linguagem muito sintética, substantiva, não havia divagações ou conversa para encher tempo; não havia o tal diálogo entre normalmente uma voz masculina e feminina para preencher o espaço que mediava entre dois discos». Ensaiam uma linguagem clara e directa, dita apenas por um único locutor, sobre música seleccionada, popular inglesa e folk, como a canção de protesto de Bob Dylan ou o “Soldado universal” de Donovan.
Alguns dos discos chegavam da Suíça, sendo portanto desconhecidos em Portugal; a sua transmissão era acompanhada com textos explicativos. É o início de uma rádio conscienciosa, que começa a confiar na sua peculiaridade.
Na segunda metade da década de 60, nascerá um programa que repercutirá a influência das duas características inovadoras do “Diário do Ar” e “Meia-Noite”, entretanto extintos, juntando-as num único programa, nocturno, com uma inusitada dinâmica informativa, o “PBX”, programa produzido pelos Parodiantes de Lisboa e inicialmente realizado por Carlos Cruz e Fialho Gouveia, nascido no dia 1 de Setembro de 1967.
 A rádio passa, então, a interessar-se pelo que ocorre fora das suas paredes e, mesmo à noite, dispõe-se a relatar o que vê. A rádio ensonada acorda, desperta e agita-se; rejeita a rotina e a imunidade aos imprevistos do dia–a-dia. Com enfoque na cobertura informativa, o programa explora quer o directo quer o diferido, este último em esmeradas montagens. A rádio entrega-se mais à vida.
Quando ocorrem as inundações em Lisboa, em 1968, o PBX torna-se o sistema nervoso central de informações e comunicações entre o público e as entidades oficiais, ultrapassando o seu horário normal. A rádio deixa de padecer de autismo profundo, passa a reagir. O seu ritmo e dinamismo são feitos com base em acontecimentos como a nuvem de pirilampos no dia das mentiras, um banho à meia-noite ou cantigas populares, mas a ruptura estética é profunda porque agita as águas do mar parado, mexe com o “stablishment”,torna-se incomodativa.
Os lentos sinais do despertar da rádio para a vida e para si própria, ao longo dos últimos anos do Salazarismo, desaguam já na era marcelista, quando, um pouco emancipada, reivindica uma atitude activa perante a realidade que a cerca, tornando-se mais atenta e segura. À rádio alheada da realidade e viciada no sistema “disco–anúncio-duas-tretas”, opõe-se uma nova rádio: observadora, curiosa e crítica, uma rádio com alma.
Fruto de uma ideia original do corpo redactorial e director da revista “Flama”, nasce em 2 de Janeiro de 1968, na RR, o “Página Um”, programa pioneiro ao nível das preocupações político-sociais, fundado pela citada revista, a Rádio Renascença e um elemento da empresa construtora J. Pimenta, sendo transmitido entre as 19.30h e as 21h, de segunda a sábado. Utilizando quer a doutrina social da Igreja, por um lado, quer as crónicas de estações como a BBC, a Voz da América ou a Deutche Welle, por outro, o programa autoprotege-se e, gradualmente, começa a emitir músicas e palavras seleccionadas, colando-se à “nova canção portuguesa” que, como explicava Adriano Correia de Oliveira, «surgiu em oposição a um “status quo” que nos dava apenas letras de tipo evasivo, tendentes a alhearem as pessoas dessas realidades [portuguesa actual]». Este facto é uma inovação quer em relação à quantidade, rara, quer à qualidade da música portuguesa até então habitual, já que dos 391 programas de música ligeira que a EN transmitiu, em 1965, por exemplo, Madalena Iglésias, António Calvário, Simone, Tony de Matos, António Mourão e Maria da Fé se encontravam entre os mais ouvidos. A canção de intervenção passa a fazer parte das listas de intérpretes que, algumas vezes actuavam em directo, para uma audiência constituída por cerca de 80% de jovens, de acordo com os estudos divulgados (embora não identificados), da época. As ligações de alguns elementos do programa, quer aos cantores quer às suas editoras, permitia o acompanhamento das edições do “canto livre”. «Até ao momento em que “Página Um” apareceu havia um certo medo, como que um abafar da canção social. Nós começámos a divulgar o Luís Cília (o segundo disco) e a transmitir, quase diariamente, o dr. José Afonso e o Adriano Correia de Oliveira (…). O Fausto, por exemplo, foi considerado a “Revelação do Ano 69” e o José Afonso a “confirmação 69”» comentava, José Manuel Nunes, produtor, realizador e apresentador do programa. O texto, que representava cerca de 20% da emissão, era constituído por crónicas da Assembleia Nacional (originais do jornalista Viriato Dias, lidas em directo), local de onde também chegava, clandestinamente, o som do que lá se passava, e que foi transmitido até se ter revelado interessante, mesmo após intervenção política de Marcelo Caetano em sentido contrário.
Além das crónicas menos inofensivas (havia, entre outros apontamentos de teatro, com Maria Emília Correia, de cinema, com José Vieira Marques), emitia outras de política internacional, as quais acabariam por levar à suspensão do programa, em 1972. Neste ano, o “Página Um” receberia – em ex-aequo com o “Tempo Zip” e “Vértice” - o prémio da Casa da Imprensa, atribuído, por unanimidade, com o objectivo de distinguir o esforço realizado no sentido de dar corpo a um novo conceito de rádio, baseado «(…) num trabalho colectivo de prospecção da realidade circundante». «O “Página Um”», comentava José Manuel Nunes, em 1971, «é feito por uma equipa e o nosso objectivo, como rádio, é atingir o ouvinte, não apenas sob a forma de um disco, mas alertá-lo para os problemas que o rodeiam». Mesmo que tal o aflija: «temos também de incomodar o ouvinte, não lhe dar só boas notícias,levar-lhe um pouco da realidade, mesmo que ela seja feia e desagradável».
Num programa que não foi permitido pela censura, a equipa decide fazer a cobertura da gravação de um disco de José Afonso. Nesta emissão, em que os excertos de música iniciais eram significativos, «companheiros de aventuras, vinde comigo viajar, a noite é negra, a vida é dura, não faço gosto em voltar», a apresentação do conteúdo do programa seria feito nos seguintes moldes:
«A “Página 1” teve oportunidade de estar presente, durante três sessões de gravação do último LP do José Afonso, “Venham mais cinco”, com direcção e arranjo do José Mário Branco. Assistiu às gravações Francisco Fanhais.
Os depoimentos que a “Página1” recolheu do José Afonso, do José Mário Branco e do Francisco Fanhais, não são apenas uma recolha fortuita e momentânea de afirmações despidas de significado; pelo contrário, querem mostrar quem são três dos mais significativos nomes da nova música portuguesa. Esta emissão de “Página1” preparada por João Alferes Gonçalves, José Videira e José Manuel Nunes quer ser a leitura consequente das palavras daqueles três compositores e intérpretes portugueses. Não existem acasos nesta emissão, mas pontos de reflexão e análise às afirmações produzidas.
Finalmente, esta emissão não pode ser encarada separadamente do contexto que rodeia a sua transmissão. Feito este esclarecimento, aqui está “Uma noite em Paris”».
Esta rádio nova, socialmente empenhada, contagiou não só consumidores como produtores, nomeadamente na própria RR, onde, no ano de 1970, tem início um novo programa, preocupado sobretudo com o seu conteúdo: «De parte das pessoas que fazem o TEMPO ZIP há uma preocupação de levar ao público os temas de repercussão social e, ao mesmo tempo, provocar no público uma reacção consciente ao estímulo que lhe é transmitido (…). A inércia a que o público está habituado tem sido um travão. A primeira grande dificuldade é afastar o público de um determinado tipo predominante de Rádio, mais ou menos fútil e vazio, e despertá-lo para a realidade que o deve preocupar».
Transmitido no horário entre as 0h e as 3h, o “Tempo Zip” veio ocupar as duas últimas horas da “23ª Hora” e entrar em concorrência directa com o “PBX”, do qual haviam aliás transitado dois elementos (Carlos Cruz e Fialho Gouveia).
Emitido no mesmo horário, a sua criação veio provocar no “PBX” uma reacção que se pautou por uma nova linha (a partir do dia 15 de Abril de 1970) e novos meios (como a aquisição de um helicóptero), assegurada por Paulo Cardoso, que lhe imprimiria um novo dinamismo transmitindo emissões como a de o “Eléctrico chamado PXB”.
Gabriel Valle, crítico de rádio, salientava em Junho de 1972 o papel de “Página Um” e “Tempo Zip” para o despertar de uma rádio mofa, que vivia praticamente adormecida e estagnada: «Através de operações por telefone, de reportagens no exterior, inventam o interesse no público pela existência de uma rádio que já não é simples objecto de decoração ou de acompanhamento de fundo. «Fazer rádio é a nossa forma de intervir. Fazer rádio é a nossa forma de estar no tempo. A rádio nova existe e existem pessoas que não estão na rádio para vender detergentes». Procura-se a relação do jornalista com a rádio, de uma rádio formativa e informativa.
Já passou o tempo do caixote de música e de anúncios, do locutor fulano-ignorado-e-indiferente. «A rádio é onde está presente o homem e a sua consciência, o homem e os seus problemas, o homem e o seu tempo, o homem que fale de frente. Acabou a narração do «coisa nenhuma». É o tempo de estar aqui».
A rádio, já desperta, agita-se, anima-se, injectando vida nos programas nocturnos. A noite passa a ser um horário nobre e, em 1970, a “Rádio & Televisão” reporta o fenómeno: «A rádio comercial portuguesa passa neste momento por uma fase de intensa actividade, expressa sobretudo numa ruptura com um passado ainda recente de esquema rotineiro e manso, sonolento e doce. A nova fase tem maior incidência na programação nocturna, a que ultrapassa a meia-noite, durante as horas que foram durante muito tempo consideradas mortas. Esse tempo é agora aproveitado pelas estações emissoras para o lançamento dos seus programas de maior audiência. O horário passou a ser disputado a peso de ouro pelos produtores. Num ápice, o que era noite, silêncio e quietude tornou-se vida, ritmo, actividade, bulício. Revelou-se um número considerável de ouvintes, atentos e despertos. A noite tem gente. Vibração. Nervos. Acção e sentido. Descobri-la e descobrir-se foi a palavra chave da Rádio. Modernizar-se, actualizar-se, ganhando vivacidade e consciência de si própria e dos ouvintes foi o caminho. Saiu do estúdio. Deixou o remanso dormente. Acordou e ajudou a despertar. Sacudiu insónias e roupagem descolorida. Animou-se. Começou a vestir de cores vivas. Descobriu a reportagem, a crónica, e redescobriu o disco. Dinamizou-se, acreditando que o suor é necessário ao prestígio, tornando-o sólido, vivo e verdadeiro. Escolheu um caminho. E segue-o».
Em 1970, a RR inaugura a sua emissão contínua ao lançar “Estamos consigo na madrugada”, entre as 3h e as 7h, um programa que se seguia a “Tempo Zip”, apresentado por José Manuel Nunes, e cujo lema era: «Consigo, que trabalha de noite, para que os outros possam viver de dia». Completavam-se, assim, as emissões de 24 horas diárias entre as três principais estações portuguesas: o RCP transmitia “A noite é nossa”, entre as 3h e as 6h, programa apresentado por Ruy Castelar, com o lema: «Enquanto estiver acordado, a noite é nossa!» e a EN transmitia o “programa da madrugada”, entre as 2h e as 7h, apresentado por Raul Durão, cujo lema era «Quando a noite é mais noite, dizemos bom dia».
E serão dois programas nocturnos que elevarão a contestação ao seu mais alto nível, em Abril de 1974: o “1-8-0”, iniciado no dia 21 de Setembro de 1967, transmitido entre as 22h e a 1h na Alfabeta, nos Emissores Associados de Lisboa (direcção que reunia a Rádio Peninsular e a Rádio Voz de Lisboa), e que foi distinguido com o Prémio da Casa de Imprensa, em 1972, «(…) pela sua vivacidade e pela sua preocupação de actualidade(…)», e o “Limite”, transmitido na RR, entre as 0h e as 2h, e produzido por Leite de Vasconcelos, Carlos Albuquerque, Manuel Tomás e Costa Martins, para quem o objectivo era «(…) ir até ao limite do que é possível fazer na rádio portuguesa, não exercendo, propriamente, uma função política mas despertando as pessoas para os problemas que são os seus e para os quais devemos estar de olhos abertos».

Contributo decisivo para o derrube do regime, a rádio nova fora o facto mais relevante ao longo dos anos estudados na programação da rádio portuguesa. Caracterizada por um conjunto de novas propostas, radicalmente diferentes do “status quo” radiofónico habitual, assentes em conceitos, posturas e conteúdos inovadores, apresenta um novo projecto de rádio, de ruptura com a linguagem, a técnica, a estética e a ética até então formuladas. Resultado de uma nova geração de profissionais, mais cultos, mais rebeldes e mais competentes, estes afrontam a geração anterior: «Achávamos que a rádio daquele tempo era uma rádio de mau gosto, medíocre, desinteressante, feita por gente completamente instalada, escribas sentados, conformados com os seus patrões, com a estética dominante (…) era a rádio de família, uma rádio do regime, acética, pura, quer dizer… mentirosa. E quando nós vamos para lá e vamos perguntar às pessoas se gostaram do filme e uma Maria diz uma coisa qualquer, e não é um crítico, isto vem implicar trazer para a rádio um pouco da verdade e não da ilusão de um mundo que não existia». Estes novos profissionais transportam para a rádio uma forma de estar e viver diferente e fazem um corte com a rádio tradicional, produzida por Gilberto Cotta e/ou Armando Marques Ferreira. Há um combate entre concepções divergentes; luta-se pela introdução dos novos ritmos musicais estrangeiros, por dar voz ao cidadão comum, por falar em cima dos discos. É a inovação formal, «(…) mas isso era, na dureza do regime [salazarista], uma coisa completamente perigosa (…)». É uma rádio de intervenção estética e, nesse sentido, era já política, porque agitava, incomodava, fazia perigar a situação instalada, agitava as ondas radiofónicas. A procura de perfeição levava a que uma simples mistura de discos significasse algo mais; além de agradável, auditivamente interessante, original e criativo, consubstanciava implicitamente um conteúdo. O expoente desta rádio temática, muito mais preocupada com os autores das canções do que com os seus intérpretes, e que vai tentando alargar ao máximo o seu leque de assuntos abordados acontece durante o marcelismo. No “Tempo Zip”, houve crónicas sobre Portugal com Agostinho da Silva, revista de imprensa com Joaquim Letria, poesia com Alexandre O`Neill, urbanismo com Nuno Portas. O desejo de rompimento foi profundo e consequente.


Dina Isabel Mota Cristo - Universidade Nova de Lisboa - Faculdade  de Ciências Sociais e Humanas - Lisboa, 15 de Abril de 1999
(Tese de mestrado orientada pelo Prof. Dr. Francisco Rui Cádima e apoiada pela Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT), do Ministério da Ciência e Tecnologia, apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa, para obtenção do grau de mestre em Ciências da Comunicação.)

terça-feira, julho 31, 2012

DA RÁDIO TRADICIONAL À RÁDIO NOVA



Programação (I)

Na área da programação, o discurso radiofónico do período que decorre entre 1958 e 1974 foi influenciado pelos anos precedentes.
Programas como “Talismã” (nascido em Dezembro de 1951) e “Onda do Optimismo” (que fora pela primeira vez para o ar no dia 1 de Janeiro de 1953) irão atravessar praticamente toda a época estudada, arrastando-se rotineiramente. Farão parte dos programas que, entre discos entremeados de publicidade e dois dedos de conversa, terão o seu público, mas serão ultrapassados por novas propostas, apresentadas de forma lenta mas segura, ao longo dos anos.
Fazem parte de uma rádio introvertida, virada para si mesma, envergonhada e inibida. Uma rádio de cabina, realizada à base do diálogo entre, normalmente, dois locutores, cada vez mais rendidos quer às «rodelas pretas», os discos de vinil, que inundam as estações, quer à publicidade.
É a rádio bonançosa, tranquila e sossegada, cuja preocupação é não mais que distrair, modelo do qual também fez parte o “Clube das Donas de Casa”, vespertino, com uma audiência avaliada em cerca de 800 mil ouvintes.
Mas os grandes êxitos de audiência eram os programas de humor, os folhetins, os discos pedidos e os programas desportivos.

Nos programas humorísticos destacavam-se a “Voz dos Ridículos” e os “Parodiantes de Lisboa”, os quais obtinham cerca de 20% de audiência. O programa “Graça com todos” recebia, em 1961, uma média de 25 cartas por dia, muitas delas para a personagem de “o compadre alentejano”. Com o passar dos anos, contudo, o império do riso cai em desgraça, aos olhos da crítica, que lhes aponta o excesso de anúncios, por um lado, e a perda de graça, por outro, mas mantém a massa das audiências que, em 1970, lhe assegura a liderança das preferências entre os programas publicitários, com 18,3% de escutas, de acordo com a Norma.

Ainda dentro deste modelo inicial, marcado pelo sucesso de o “Zéquinha e a Lélé”, como ficou conhecido o folhetim “Força do destino”, uma sequência de 54 diálogos da autoria de Aníbal Nazaré e Nelson de Barros, interpretados por Vasco Santana e Irene Velez, os folhetins radiofónicos serão, ao longo dos anos 60, um dos principais alicerces da audiência radiofónica e uma das constantes matérias de crítica:
«(…) todas elas [as donas de casa] se debruçam, em ânsias, sobre o caríssimo rádio estereofónico de quatro bandas ou sobre o modesto transístor comprado a bochechas ao contrabandista – quando a hora do Folhetim chega finalmente», analisava Óscar Pontinho.
O folhetim era uma presença constante nas grelhas de programas. Fizeram furor, no Rádio Clube do Norte, “Ciúme que mata”, em 1959, e no Rádio Clube Português (RCP), “o inimigo”, vencedor nesta categoria nos prémios de popularidade, organizados pela revista especializada “Rádio & Televisão” e votados pelo público, em 1962, ano em que o RCP lança as suas matinés teatrais. O folhetim conheceria, em 1973, um êxito retumbante, com “Simplesmente Maria”, uma novela radiofónica que relata a história de uma costureira que imigra para a cidade, torna-se criada, mas fracassa ao nível sentimental, uma vez que, ficando grávida de Alberto, um estudante, este lhe recusa o casamento. Transmitida na Rádio Renascença (RR), às 14h 15m, depois de ter passado pela Espanha, Brasil e Argentina, país de onde é natural a autora, uma advogada sob o pseudónimo de Célia Alcântara, «em poucos meses, graças a uma publicidade poderosa, Maria [a personagem principal] ultrapassou Eusébio e Amália em popularidade».

Os discos pedidos eram uma das tipologias mais ansiadas pelos ouvintes. Mesmo dispersos pelas várias emissoras, obtinham elevado número de pedidos, incluindo as emissões e as estações menos conhecidas que recebiam elevados níveis de correspondência; na Rádio Alto Douro dava entrada uma média de duas mil cartas por mês e à Rádio Pólo Norte, Emissora das Beiras, no Caramulo, chegava, mensalmente, cerca de um milhar de pedidos. O maior êxito de todos, “Quando o telefone toca” chegou a ser emitido, ao mesmo tempo, pela RR, com Joaquim Pedro, pelo RCP, com Matos Maia, e pelos Emissores Associados de Lisboa (EAL), na Rádio Peninsular, com João Paulo Dinis; preenchia então mais de metade dos 20 por cento de audiência deste género. O fenómeno era de tal forma generalizado que Oscar Pontinho salienta, em crónica de espectáculos, o caso de uma Radiolândia, “país” onde se destacam os “pedintes”, os que pediam discos. Numa crítica de rádio anterior, Jorge Guerra desabafava «Ufff!… Muito se pede neste País. E, especialmente, discos», a propósito, da programação dos EAL, nomeadamente da Rádio Graça, onde, em cinco horas de emissão, «(…) apenas [houve] TRÊS HORAS DE DISCOS PEDIDOS!».

Excepcionalmente, o desporto mantém-se um sector vivo e dinâmico. Vindas de uma tradição fortemente marcada pelas transmissões de hóquei em patins, «modalidade altamente radiofónica», em que Portugal era habitualmente vencedor, as transmissões desportivas eram um sucesso; em 1972, atingiam cerca de sete por cento de audiência. Quando a Federação Portuguesa de Futebol permitiu, passada a resistência inicial (que após uma primeira fase de interdição total, apenas permitia a entrada em campo dos repórteres na segunda parte dos jogos, como defesa contra o receio do afastamento do público dos estádios, obrigando os profissionais a fazer o resumo da primeira parte e só depois o relato da segunda), o relato de futebol integral, o desenvolvimento da modalidade (traduzido na cobertura simultânea de toda a jornada, no início da década, com a cobertura das participações internacionais das principais equipas portuguesas, culminado com a exibição da equipa nacional no Campeonato Mundial de Futebol, em Inglaterra, em 1966, onde ficou classificada em terceiro lugar) levou o futebol ao lugar cimeiro nas emissões desportivas e no interesse dos ouvintes. Nos anos 60, é já inconcebível qualquer jornada internacional em que participasse uma equipa portuguesa, sem a cobertura da rádio, pelo menos da EN.

O primeiro sinal de mudança surge no dia 25 de Junho de 1958, quando a RR transmite um programa de ficção científica, “A invasão dos marcianos”. Matos Maia, o seu realizador, é convidado a prestar declarações na PIDE :
«Não foi a Terra a invadida mas sim os estúdios da Rádio Renascença. E por fim não foram os marcianos os dominados, mas o produtor e os colaboradores do programa que tiveram de ir sob prisão, justificarem-se ao Governo Civil do «crime» de terem tentado fazer na Rádio portuguesa uma novidade, novidade que tem 20 anos nos países cultos!…».
Tudo começou depois das 20 horas, quando António Revez interrompe a apresentação de Orquestras Ligeiras para dar uma notícia especial: «Às 19horas e 45, o Dr. Jorge da Fonseca, do Observatório Meteorológico de Braga, diz ter observado várias explosões de gás incandescente que ocorreram, com intervalos regulares, no planeta Marte. O espectroscópio indica que o gás é hidrogénio e se move em direcção à Terra com tremenda velocidade». O locutor completa ainda: «O professor Dr. Manuel Franco, do Observatório Astronómico de Cascais, confirma a observação do Dr. Jorge da Fonseca, e descreve o fenómeno como «um jacto de chama azul disparado por uma arma». (pausa) Em continuação da nossa rubrica com Orquestras Ligeiras, apresentamos a orquestra de Dick Jacobs em Peticots of Portugal».
O impacto do programa efectuou-se quer no público (alguns ouvintes chamaram os bombeiros) quer na ruptura que representou em relação à rádio que então se realizava: «Não terá tudo sido principalmente resultado dum longo hábito de sonolência radiofónica, de repente cortada pela campainha do despertador?».
A revista especializada, “Rádio & Televisão”, explicou o modo como a emissão se desenrolou: «A estação suspendia a emissão, de vez em quando, e avisava que estava a transmitir «ficção»; mas quem sabia o que era «ficção» em Rádio? Conheciam-se as palestras de circunstância, as recomendações para se ver um filme cuja distribuidora sabe abrir os cordões à bolsa, os relatos da bola, os muitos «todos tomam tudo» que para aí andam, «se está constipado coma cimento armado», e, vá lá, a prosa do Leite Rosa, os perfis de Igrejas Caeiro e os foguetes de talento do «Sr. Olavo de Eça Leal». Agora «ficção»? Quem jamais em tempo algum vira sombras desse monstro na nossa Rádio?». Era a primeira manifestação de inconformismo em relação à letargia e ao “cinzentismo” radiofónico.

No ano seguinte, também a Rádio Renascença, contrariando a tradição de o Verão ser considerado época radiofonicamente baixa, lança em Agosto a sua nova programação, inspirada no lema “mais música e menos palavras”, como o programa “Bom dia e boa música”. Fazia parte dessa nova grelha o “Diário do Ar”, programa vespertino transmitido a primeira vez no dia 15 de Agosto de 1959, produzido por Paulo Cardoso, que impulsionou a sua componente informativa, levando os microfones para a rua, auscultando o que se passava no exterior dos estúdios. Pela primeira vez a rádio ousa sair da cabina e entregar-se a alguns estímulos da vida, como a cobertura de uma prova desportiva internacional, no Canal da Mancha, realizada por Fialho Gouveia, enviado especial a Calais e Dover, relatando os incidentes ocorridos com o desportista Primo Ferreira, prestes a afundar-se. O programa privilegiava o relato, com a emoção do momento, à sua maior correcção formal “a posteriori”. É o início da rádio em “mangas de camisa”.

Paralelamente a esta nova sensibilidade aos acontecimentos relatáveis, inicia-se, simultaneamente, um outro novo fenómeno - o alargamento dos horários dos programas, em especial durante as horas nocturnas.
Em 1959, a RR lança a “23ª Hora”, um programa transmitido entre as 23h e as 2h, que se iniciou em 10 de Novembro de 1959 e que permanecerá até 1974, representando uma descompressão em relação à formalidade habitual.
Também em 1959, mas agora no RCP, surge durante o Inverno um programa que, ocupando as primeiras horas da emissão, vai dinamizar as noites na rádio, estabelecendo uma maior proximidade em relação aos ouvintes. O “Meia-Noite”, que foi para o ar a primeira vez no dia 10 de Outubro de 1959, ao tornar-se o primeiro grande programa nocturno da rádio, reforçará, igualmente, o investimento na cobertura de factos, como o Natal, o Carnaval, a inauguração de Brasília, os Santos Populares ou ainda a comemoração da independência portuguesa, no dia 1 de Dezembro. Percursor, em algumas datas festivas, do prolongamento da emissão até às sete horas da manhã, como nos casos das noites de Natal (1959 e 1960), de Carnaval (1960 e 1961), das passagens de ano e dos seus próprios aniversários e dos do RCP (como ocorreu em 1962, aquando dos 32 anos da estação, com uma emissão especial, desde as 21h até às 4h da madrugada), o “Meia-Noite” desbravará caminho que permitirá ao RCP transformar-se na primeira estação de rádio com emissão ininterrupta.
Assim, em Agosto de 1963, o Rádio Clube lança no ar um novo programa de António Miguel e Curado Ribeiro, “Sintonia 63”, transmitido entre as 3h e as 6h, o que, pela primeira vez, unirá de forma contínua e regular, a madrugada à manhã. O pioneirismo destes programas fora antecedido por algumas experiências, como o programa “Madrugada”, o primeiro que teve uma noite inteira no ar, “Festival da noite”, que uniu, pela primeira vez, com regularidade, a noite ao dia, transmitido entre as 2h e as 7h, na Rádio Voz de Lisboa, embora apenas ao fim-de-semana, e “Enquanto os outros dormem” que, em 1962, nos EAL, se transmitia durante as mesmas cinco horas nocturnas. Mas para além da rádio que se alarga pela noite dentro, o movimento de extensão dos horários irá pressionar a sua antecipação, durante as manhãs, impondo uma rádio mais madrugadora. Em 1962, o RCP transmitirá, “Desculpe, mas já são horas”, emissão com início às 6h, preenchendo pela primeira vez esse horário até às 7h.




Dina Isabel Mota Cristo - Universidade Nova de Lisboa - Faculdade  de Ciências Sociais e Humanas - Lisboa, 15 de Abril de 1999
(Tese de mestrado orientada pelo Prof. Dr. Francisco Rui Cádima e apoiada pela Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT), do Ministério da Ciência e Tecnologia, apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa, para obtenção do grau de mestre em Ciências da Comunicação.)







sexta-feira, julho 27, 2012

A Rádio em Portugal e o Declínio do Regime de Salazar e Caetano (1958 -1974)



Estudar as relações entre a rádio portuguesa e o regime do Estado Novo entre os anos 1958 e 1974 é o principal objectivo desta investigação. 
As fontes estão pouco organizadas, a informação está dispersa e muitas vezes inacessível. Dado o carácter quase pioneiro desta primeira recolha sistemática de dados, não me proponho mais do que apresentar uma primeira abordagem aproximativa à uma realidade tão extensa, rica e ao mesmo tempo tão desconhecida. Nesse sentido, desejo apenas dar uma contribuição para o estudo da história de uma década da rádio em Portugal, sem pretender mais do que possibilitar um primeiro olhar, necessariamente incompleto e insuficiente, ainda que, o mais fiel possível aos dados e testemunhos reunidos.


As relações entre a rádio e o poder político no final do antigo regime estão tão pouco estudadas, e por isso tão incompreendidas, quando afinal se revelam extraordinariamente importantes para a compreensão do poder, discretamente manipulador da consciência das massas, realizado através de um meio sonoro, tão intensamente utilizado como forma de defesa de uma opinião pública favorável aos valores de «Deus,  Pátria e Família».
O regime serviu-se da rádio assim como a rádio se serviu do regime, como forma garantida de crescer e se expandir. (*)
Maioritariamente oficial e/ou oficiosa, a rádio portuguesa, constituída pela ondas hertzianas de aquém e de além mar, nascida e criada no contexto do Salazarismo, estava bem inserida nos condicionalismos socio-político-económico coevo.
Aprendeu a gerir as condições adversas, a ultrapassar a dificuldades e a superar os obstáculos. E será assim que, dando continuidade a uma rádio tradicional, nascerá neste período uma nova rádio. Esta opor-se-á à anterior, da qual contestará o discurso, os temas, as posturas. Apresentará uma inovação, essencialmente estética, durante o salazarismo, forçando cada vez mais o conteúdo, no marcelismo. As novidades que propõe vão beliscando cada vez mais intensamente o regime, que se incomoda.
Habituado a uma rádio-espectáculo, à base de emissões directas, anteriormente, e depois de passagem de discos, antes entremeados com uma conversa que nada diz e depois sem quase nada dizer, fechada na cabina, o regime assusta-se com tamanha audácia. 
Aos poucos, as rádios privadas, Renascença e Rádio Clube, concorrendo entre si e com a emissora oficial, vão arriscando sucessivos elementos de contraste com a “maçadora nacional”. Desde 1958 que vão paulatinamente preparando a revolução. Conteúdos excepcionais, sons raramente ouvidos, locais e pessoas habitualmente desconsiderados e tudo sedimentado em novas experiências, na Rádio Universidade e na Rádio em África.
Além de uma aprendizagem sobre a sua especificidade, centrada sobretudo na rapidez e no imediato, explorada sobretudo pela informação, a rádio vai assumindo protagonismo e aos poucos vai-se desinibindo e ganhando auto-confiança. 
Privilegiada pela relação dialogante e próxima que mantinha com a censura, exercida pelos próprios responsáveis das estações, e pela possibilidade de utilizar o directo como fuga ao controlo manobrado, a rádio atinge um estatuto particular. Dá algumas ferradelas ao regime, sofre também algumas perseguições, mas convive bem com o poder. (**)
Limitadamente, a rádio resiste.
Emitida e consumida por um grupo restrito de pessoas, (***) preocupadas sobretudo com a exploração da realidade, com verdade, a rádio nova vai ser a voz diferente, distante da militância política estrita, da direita ou da esquerda, que assegurará um efectivo esclarecimento da opinião pública.
Nascida com o Estado Novo, nela o regime morrerá.




Dina Isabel Mota Cristo - Universidade Nova de Lisboa - Faculdade  de Ciências Sociais e Humanas - Lisboa, 15 de Abril de 1999
(Tese de mestrado orientada pelo Prof. Dr. Francisco Rui Cádima e apoiada pela Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT), do Ministério da Ciência e Tecnologia, apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa, para obtenção do grau de mestre em Ciências da Comunicação.)


Esta é a opinião da autora, na sua tese de mestrado, desconhecendo se este foi o texto final da mesma.
Não é a minha, tanto quanto as minhas memórias o permitem. Vejamos então:
(*)
O regime serviu-se da rádio assim como a rádio se serviu do regime, como forma garantida de crescer e se expandir
Os regimes políticos tentam sempre aproveitar-se dos meios de comunicação e acredito que muitas vezes o inverso também seja verdade, ainda que parcialmente.
Mas, aquilo que me parece é que a rádio cresceu e se expandiu porque foi uma voz critica e teve a capacidade de inovar e fazer melhor.
(**) Privilegiada pela relação dialogante e próxima que mantinha com a censura, exercida pelos próprios responsáveis das estações, e pela possibilidade de utilizar o directo como fuga ao controlo manobrado, a rádio atinge um estatuto particular. Dá algumas ferradelas ao regime, sofre também algumas perseguições, mas convive bem com o poder. 
Privilegiada pela censura? Directos como fuga? Boa convivência com o poder? 
Nunca deve ter falado com nenhum autor, locutor, realizador ou produtor dos programas de referência da época referida.
(***) Emitida e consumida por um grupo restrito de pessoas  
Então mas os programas de rádio não são sempre emitidos por um grupo restrito de pessoas? Quanto aos "consumidores"...Se os ouvintes eram um grupo restrito como é que a rádio aumentou audiências e ganhou tanta importância que acabou por ser escolhida como canal do golpe militar?


A juventude explica muita coisa mas não justifica tudo.

terça-feira, julho 24, 2012

Dois nomes a confirmar e a descobrir para futuros almoços
Formosinho e Rosendo, António Fortes ando á "caça"

SE A INTERNET UMDIA ACABAR OU FOR DESACTIVADA....

Se a Internet um dia acabar...
Se toda a sua informação passar a Arquivo Morto...
Algures noutro planeta do sistema solar ou nos confins da Galáxia...
Pede-se aos Seres que reactivarem este blog
Que respeitem a memória destes "apaixonados"...
Pelos Sons e pela Rádio, e que existiram no Século XX
Deixando em Legado neste blog no Século XXI
E que, sem qualquer outra intenção
Divulgaram a Musica nos seus tempos livres
A todos os colegas, e com toda a irreverência que lhes era possível..

http://www.youtube.com/watch?v=ZhaHLoK3CF4
  

segunda-feira, junho 18, 2012

Pão Comanteiga



"Programas destes são absolutamente irrepetíveis. E essa Rádio que, no início dos oitenta, mais ninguém fazia assim, também é completamente irrecuperável. Nada a fazer."
"São realmente textos tão surpreendentes que ainda hoje vivem por si, como se fossem fulgurantes retratos de fantasia e permanecem como então, à frente do tempo dos próprios fotógrafos… " 

José Nuno Martins


O ANO DE 1980 VISTO PELO JORNAL EXPRESSO

Um país inteiro, ainda à procura de rumo, entretém-se a dar voltas ao cubo de faces coloridas inventado pelo húngaro Rubik. Há uma solução correcta entre 43,2 quinquilhões de possibilidades...
A cores é agora a TV, que passa Dallas («quem matou J.R.?»).
Em concertos de música brasileira nunca houve tanta fartura: Milton Nascimento, Chico Buarque, Simone na Festa do «Avante!».
Na Rádio Comercial há Pão com manteiga (Carlos Cruz), Lugar ao sul (Rafael Correia) e Café concerto (Maria José Mauperrin).
Rui Veloso funda o rock com Chico Fininho e Marco Paulo confessa-se (Eu tenho dois amores). Victor Espadinha ainda fala aos corações (Recordar é viver) e as Doce fazem sucesso (Amanhã de manhã). Eternos são Amália (Gostava de ser quem era) e John Lennon (Woman). Babooska (Kate Bush) e Enola Gay (OMD) são outros sons que andam no ouvido.
Já chegou o CD, mas ainda em fita vemos Apocalypse Now, Kramer contra Kramer, A Sombra do Guerreiro e Manhã Submersa.
E Com um brilhozinho nos olhos (Sérgio Godinho) lemos O Nome da Rosa (Umberto Eco).

Equipa Inicial: Carlos Cruz, José Duarte, Mário Zambujal, Orlando Neves, Bernardo Brito e Cunha, Eduarda Ferreira;

Que viria depois a ser renovada para as segunda e terceira épocas:  Carlos Cruz, José Duarte, Mário Zambujal, Artur Couto e Santos, Clara Pinto Correia, Luis Macieira, José Fanha e João Miguel Silva. 

“Foi o programa que abriu o caminho para as modernas formas de humor a que hoje somos por cá expostos, embora me permitam que eu diga que era tão “à frente” que ainda não se chegou aquele nivel outra vez, mesmo que haja humor muito bom por aí à solta, e moderno.

Tinha influências da Mad, dos Monty Python e foi um brilhante exercício de liberdade. Porque o humor antes do 25 de Abril não era assim, e este era espantosamente afastado das tricas politicas que típicas desses primeiros anos a seguir à ditadura. O programa ainda gerou um pequeno império de spin-offs, com a publicação de 2 livros (antologias de piadas e sketches que tinham ido para “o ar”) e uma revista brilhante, cheia de material extra-programa, que embora eu não recorde a quantidade de números publicados, penso que devem ter andado por volta dos 20, ...

O que interessa: era 1980, ... a rádio era o meio de comunicação mais inovador e vanguardista da época, para isso bastando dar uma pequena olhadela ao menu de programas que então surgiram. Musicalmente, desde finais dos anos 70 que a Rádio Comercial era “a” estação a ouvir para quem era ainda jovem, mas não só.

Religiosamente, qual missa dominical, das 10 às 13 horas, não é que o país parasse como para ver a Sónia Braga subir ao telhado de seu Nacib um par de anos antes, mas pelo menos muitos de nós parávamos para ouvir as vozes de Carlos Cruz e José Duarte, mais aquele do que este.

Pela qualidade incrivelmente consistente dos programas semanais com três horas, quase sem qualquer ponto baixo, não há qualquer hipótese de comparação, a não ser O Tal Canal, mas mesmo assim com alguma margem de avanço para os amanteigados. Nos jornais havia então o aparecimento do Miguel Esteves Cardoso (Música&SomSe7e), que também marcaria toda a década, mas nada é comparável ao Pão Comanteiga, que me desculpem os incrédulos ou desconhecedores.

Em casa, já se sabia que o rádio a pilhas estava reservado todas as manhãs de Domingo, mesmo que a família saísse para qualquer volta maior ou menor. Não me lembro de nada comparável, que me tenha deslumbrado de forma tão completa em matéria de comunicação social e de humor em português.

“Nem sempre o pecado mora ao lado; gasta-se um dinheirão em transportes.”

“Cada vez há menos gente que tenha conhecido D. Afonso Henriques.”

“Quando a luxúria é cometida com uma grande limpeza, chama-se lascívia.”

“Um peixinho vermelho, mergulhado em água a ferver, perde rapidamente a cor.”

Nunca abotoe um botão de um elevador em andamento…

Há várias maneiras de um homem se abotoar. Por exemplo: com milhares de contos!

Homem desabotoado vale por dois!

-Tem-se abotoado bem, ele… ah...!?
-Pois: abotoou-se e depois habituou-se…

Os Hunos foram os primeiros a considerarem-se hunos e indivisíveis. Indivisíveis porque eram primos.

As receitas dos médicos são as despesas dos doentes.

Um semideus é deus da cintura para cima ou da cintura para baixo?

Um domingo nunca vem só: traz a semana inteira.

As pilhas podem dar à luz: pilha és, mãe serás!

Até o tempo mal empregado se desconta para a Caixa!

Penso, logo rápido.

Uma carta de apresentação apresenta-se bem e o defeito que tem é ser tão usada.

Uma mulher fartava-se de lhe dizer:
- Não te Descartes marido, não te Descartes…
Ficou célebre como filósofo e matemático do século XVII…

Um carteiro quando faz batota, mete as cartas do 1º. esquerdo no 4º. frente.

Quando a família real joga às cartas todos estão proibidos de dizer: - Só me saem duques!








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