Há algumas semanas atrás,
precisei de me deslocar de táxi, por não poder conduzir.
Apanhei um táxi que era conduzido
por um sujeito que ouvia um posto de rádio a que não liguei. Durante o
percurso, o motorista resolveu entabular conversa e mostrar que sabia de
música.
“O cantor desta canção era um
individuo fora do comum. Devia pesar mais de 300 kg.”
“É verdade respondi-lhe. Era
enorme e dificilmente poderia passar despercebido”. Pus-me a recordar a sua
imagem e a tentar lembrar-me do nome da canção que o tornou célebre e, que já
foi interpretada por dezenas ou centenas de outros cantores. Mas, embora a
memória não tenha ajudado, não dei parte de fraco.
Aí o condutor resolveu dizer :
“Já vi que também sabe do assunto.” E começou a falar do rock dos anos
cinquenta e sessenta. E começou a desfilar nomes: Pat Boone, Elvis Presley,
Chuck Berry ...e os Beatles. “Eu sou um pouco mais velho, mas...”
A viagem chegou ao fim, mas como
durante toda a manhã me sobrou tempo, fui-me entretendo a divagar sobre o tema.
O homem deveria ter entre 65 e 70
anos. Aparentava um estado fisico bastante equilibrado e, mentalmente,
aparentava uma memória acima da média.
Daí, foi um passo para pensar
como é que os outros me veriam.
Raramente olho para um espelho
com “olhos de ver”. É o pentear e aparar a barba. Não me recordo de olhar para
o espelho e ver as rugas ou o ar mais envelhecido. Os cabelos brancos do cabelo
e da barba fazem parte do quadro geral e nunca me incomodaram. No tempo em
que, diáriamente, usava gravata, o
quadro não era muito diferente.
Mentalmente, embora com muitos
acidentes de percurso que foram deixando as suas “verrugas”, continuo a
achar-me “relativamente” são e tento não adoptar atitudes muito
“empoeiradas e datadas”. Gosto pouco de
termos como “a música do meu tempo...”. Tenho uma forma relativamente
“””Jovem””” (reparem nas aspas) de estar.
No entanto, tenho alguma
dificuldade, vá-se lá perceber porquê, em imaginar pessoas de idade mais
avançada, detentores de uma cultura musical na área do rock. Esta dificuldade
está, certamente, associada ao nosso passado politico e à correspondente dificuldade
de acesso à cultura académica e/ou musical.
A música, na sua maior parte, com
excepção da clássica e de alguns tipos de jazz, é um produto “jovem”, criada e
executada por “jovens” e destinada, essencialmente, a “jovens”. É um rótulo
que, de alguma forma, se cola à nossa forma de olhar os outros.
Se conhecemos e gostámos do rock,
então ainda possuímos alguma juventude. Será?
Recordo-me de dizer a mim
próprio: tenho que manter o contacto com a música que for sendo feita, não me
posso fechar naquela que já conheço. Não posso dizer que música boa era a dos
Led Zeppelin, ou dos Beatles, ou dos Rolling Stones, ou...
E no entanto, não fui capaz.
Logo, envelheci.
E vocês?
PS: Quando a memória não ajuda, procura-se na internet:
Israel Kamakwiwo Ole – Somewhere over the rainbow
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