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quarta-feira, abril 09, 2014

Filhos do Rock - 1




Há algumas semanas atrás, precisei de me deslocar de táxi, por não poder conduzir.

Apanhei um táxi que era conduzido por um sujeito que ouvia um posto de rádio a que não liguei. Durante o percurso, o motorista resolveu entabular conversa e mostrar que sabia de música.

“O cantor desta canção era um individuo fora do comum. Devia pesar mais de 300 kg.”

“É verdade respondi-lhe. Era enorme e dificilmente poderia passar despercebido”. Pus-me a recordar a sua imagem e a tentar lembrar-me do nome da canção que o tornou célebre e, que já foi interpretada por dezenas ou centenas de outros cantores. Mas, embora a memória não tenha ajudado, não dei parte de fraco.
Aí o condutor resolveu dizer : “Já vi que também sabe do assunto.” E começou a falar do rock dos anos cinquenta e sessenta. E começou a desfilar nomes: Pat Boone, Elvis Presley, Chuck Berry ...e os Beatles. “Eu sou um pouco mais velho, mas...”

A viagem chegou ao fim, mas como durante toda a manhã me sobrou tempo, fui-me entretendo a divagar sobre o tema.

O homem deveria ter entre 65 e 70 anos. Aparentava um estado fisico bastante equilibrado e, mentalmente, aparentava uma memória acima da média. 

Daí, foi um passo para pensar como é que os outros me veriam.
Raramente olho para um espelho com “olhos de ver”. É o pentear e aparar a barba. Não me recordo de olhar para o espelho e ver as rugas ou o ar mais envelhecido. Os cabelos brancos do cabelo e da barba fazem parte do quadro geral e nunca me incomodaram. No tempo em que,  diáriamente, usava gravata, o quadro não era muito diferente.

Mentalmente, embora com muitos acidentes de percurso que foram deixando as suas “verrugas”, continuo a achar-me “relativamente” são e tento não adoptar atitudes muito “empoeiradas  e datadas”. Gosto pouco de termos como “a música do meu tempo...”. Tenho uma forma relativamente “””Jovem””” (reparem nas aspas) de estar.
No entanto, tenho alguma dificuldade, vá-se lá perceber porquê, em imaginar pessoas de idade mais avançada, detentores de uma cultura musical na área do rock. Esta dificuldade está, certamente, associada ao nosso passado politico e à correspondente dificuldade de acesso à cultura académica e/ou musical. 

A música, na sua maior parte, com excepção da clássica e de alguns tipos de jazz, é um produto “jovem”, criada e executada por “jovens” e destinada, essencialmente, a “jovens”. É um rótulo que, de alguma forma, se cola à nossa forma de olhar os outros.

Se conhecemos e gostámos do rock, então ainda possuímos alguma juventude. Será?

Recordo-me de dizer a mim próprio: tenho que manter o contacto com a música que for sendo feita, não me posso fechar naquela que já conheço. Não posso dizer que música boa era a dos Led Zeppelin, ou dos Beatles, ou dos Rolling Stones, ou...
E no entanto, não fui capaz. Logo, envelheci.

E vocês?

PS: Quando a memória não ajuda, procura-se na internet:
        Israel  Kamakwiwo Ole – Somewhere over the rainbow

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